O Pão de Santo Antônio
Entre as imagens de Santo Antônio, a que mais me agrada é aquela que o representa oferecendo o pão. Ele traz num dos braços o Menino Jesus que segura uma cesta de pães e que os vai entregando ao santo para que os distribua. À entrada do Seminário Maior da Arquidiocese de Juiz de Fora há uma imagem destas. Muitas vezes, fico admirando-a quando entro por aquela porta. É carregada de ternura e de ensinamentos.
Quando celebramos a festa de Santo Antônio, em muitos lugares, como em nossa Catedral, temos o costume de abençoar os pães e distribuí-los gratuitamente a quem quiser e tiver fé. Muitas padarias oferecem de graça centenas de pães às igrejas para este belo costume. Os fiéis às vezes pegam dois: um para comerem respeitosamente, pedindo as bênçãos de Deus; o outro, põem na vasilha de farinha ou outro mantimento para que Deus nunca deixe faltar o necessário para viver. Este gesto é uma verdadeira oração feita não tanto com palavras, mas com a força do elemento simbólico.
O costume se baseia num fato da vida de Santo Antônio. Conta-se que ele era tão caridoso para com os sofredores, que lhe doía muito no coração ver alguém passando necessidade. Certo dia distribuiu todos os pães da despensa de seu convento para os pobres. Quando o irmão cozinheiro foi preparar a refeição para os frades, deparou-se com os grandes cestos todos vazios na despensa. Olhou, voltou a olhar e constatou o fato sem saber o que fazer. Ficou apavorado. Indo falar com o então Frei Antônio, este lhe disse: volte à despensa, confie em Deus. Ao voltar, encontrou os cestos repletos de tantos pães que pôde servir, com fartura, aos frades e aos pobres.
Este fato é recordado até hoje com muita admiração pelo povo, com os costumes acima descritos e ainda por associações de caridade com o título de “Pão de Santo Antônio”.
De fato, Santo Antônio desejoso de imitar em tudo a bondade de Jesus, não se esquecera nunca das palavras registradas no evangelho de São Mateus: “Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era forasteiro e me acolhestes, estava nu e me vestistes, doente e cuidastes de mim, na prisão e fostes me visitar” (Mt 25,35 - 36).
Lembremo-nos que Jesus também matou a fome de muita gente, como nas multiplicações de pães e dos peixes, como relatado pelos quatro evangelistas (cf Mt 14, 13 -21; Mc 6, 35- 44; Lc 9, 10 - 17 e Jo 6,5 - 15). Em todos estes trechos, Jesus se serve de outras pessoas, no caso os Apóstolos, para distribuir os pães aos famintos.
Jesus, porém, não fez o bem apenas às pessoas de sua época, mas continua com a mesma atitude de bondade através da história, servindo-se dos seus discípulos de todas as épocas para praticar e para ensinar a lição do amor ao próximo.
O exemplo de Santo Antônio continua vivo animando os homens e mulheres do nosso tempo, às vezes tão marcados pelo egoísmo, a abrir mão de parte do que cada um tem, em benefício daqueles que nada têm ou não têm o suficiente para viver; e ainda a lutar para a transformação desta sociedade em mais justa, fraterna e solidária.
Neste Ano Santo Extraordinário, a vida de nosso Padroeiro se traduz em força para a vivência das Obras de Misericórdia espirituais e temporais em nosso caminhar rumo ao céu.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora