Peregrinação: um caminho para Deus
Peregrinação: um caminho para Deus
Peregrinar é um ato revestido de sacralidade. Não é somente um caminhar ou uma simples viagem; muito menos uma movimentação turística. O termo ‘turismo religioso’ não é utilizado no meio eclesial, outrossim soa muito estranho aos ouvidos de ministros sagrados e fiéis devotos.
Quanto à origem etimológica, o termo provém do latim per agros que significa pelos campos. Peregrinar é o mesmo que fazer romaria, termo este proveniente da palavra Roma, ponto de chegada de tantos que procuram visitar, com devoção, os monumentos bíblicos dos primeiros séculos da era cristã, sobretudo à procura do túmulo do Apóstolo Pedro.
O costume de peregrinar a lugares santos é antiquíssimo e está presente, praticamente, em todas as religiões.
Os hebreus costumavam sair em peregrinação e, ao menos pela Páscoa, depois que se tornaram autóctones, iam todos os anos a Jerusalém. Deste costume participaram Maria e José, como relata São Lucas em seu evangelho: Todos os anos, os pais de Jesus iam a Jerusalém para a festa da Páscoa (Lc 2, 41). Também Cristo, deste ato de profunda significação religiosa, participou e o valorizou. Segundo os relatos evangélicos, sobretudo na literatura joanina, a vida pública de Jesus se resume em três grandes peregrinações que se iniciam na Galileia até concluírem-se em Jerusalém, onde entrega sua vida ao Pai, no sacrifício da cruz, e ressuscita vitorioso ao terceiro dia.
A experiência mística de Jesus de Nazaré é a base e a iluminação de todas as peregrinações cristãs. Desde o século IV, se multiplicam as peregrinações cristãs, após as experiências de Eretrérea, que organizou viagens religiosas para a Terra Santa, após a Paz Constantiniana que deu liberdade aos cristãos de praticarem livremente sua fé (religio licita). Possivelmente fosse parente do Imperador Teodósio.
As peregrinações, ou romarias, podem ser feitas individualmente, porém, quase sempre são feitas em grupos que se reúnem, se preparam, se põem a caminho quais peregrinos do céu, em busca de conversão, de louvor e de satisfação.
Para se fazer uma boa peregrinação, alguns cuidados são importantes, como preparar-se espiritualmente pela oração, pela confissão sacramental e pela participação efetiva e afetiva na Eucaristia, alimento para quem caminha.
No Ano Mariano brasileiro (2016-2017), que pretende celebrar os jubileus de Aparecida, no tricentenário do encontro da santa imagem, e o centenário das aparições de Fátima, muitas dioceses, paróquias e grupos têm feito peregrinações a igrejas dedicadas à Mãe do Senhor. Além dos espaços dedicados a Maria no território nacional, muitos têm ido aos santuários marianos europeus, para agradecer, meditar, pedir graças, afinal, celebrar, com intensidade de alma, os mistérios de Deus acontecidos na vida daquela que foi escolhida pelo Pai para ser Mãe de Deus Filho, por obra do Espírito Santo.
Também a Arquidiocese de Juiz de Fora quis participar desta movimentação eclesial, no simbolismo forte do que significa deslocar-se, às vezes com sacrifício, para buscar, também desta maneira, forças e bênçãos no itinerário para Deus. Neste mês de setembro, quando os ipês têm sido extraordinariamente benfazejos na ornamentação da natureza, enchendo de beleza ímpar os olhos e emocionando os corações, 45 fiéis, entre os quais cinco sacerdotes, partem em romaria para visitar sete santuários do velho mundo de onde, nós brasileiros, recebemos o dom precioso da fé.
Iniciando em Fátima, passarão às catedrais nova e velha de Salamanca, onde se venera Nossa Senhora da Penha. No território francês, visitam Lourdes, recordando as aparições de Nossa Senhora a Santa Bernadete de Soubirous, em 1858, orando na imensa esplanada, local em que se pode escutar o silêncio como eloquente voz de Deus.
A viagem a Lisieux, onde está o mosteiro de Nossa Senhora do Carmo, dará oportunidade aos romeiros de Maria experimentarem a mística da “Pequena Via” de Santa Terezinha do Menino Jesus, monja carmelita que viveu entre os anos de 1873 a 1897, jovem toda de Deus que deixou ao mundo o modelo de vida santa e de ardor apostólico, tornando-se Padroeira das Missões.
Em Paris, as celebrações na capela da Medalha Milagrosa darão aos peregrinos a oportunidade de recordar a proteção de Maria como intercessora, Nossa Senhora das Graças, a partir das experiências místicas de Santa Catarina de Labouré, no ano de 1830. O Santuário se localiza na rue du Bac, onde se encontra o corpo incorrupto da Santa e também o coração de São Vicente de Paulo, Pai dos Pobres, fundador da Congregação das Filhas da Caridade, à qual pertenceu a mencionada Santa Catarina. Na rue de Sèvres, próxima ao local, outro santuário poderá ser visitado, para venerar o corpo de São Vicente de Paulo.
Chegando ao destino final, o grupo rezará em Roma, a capital espiritual do mundo cristão, onde visitará a Praça de São Pedro e receberá a bênção do Papa Francisco na audiência geral, celebrará no interior da Basílica, visitará a capela de Nossa Senhora da Piedade, padroeira de Minas Gerais, e partirá para três outras basílicas romanas, com destaque para a de Santa Maria Maior, a mais antiga igreja dedicada a Mãe de Jesus, no ocidente.
Nos caminhos de Maria, se encontra inevitavelmente Deus, pois ela é que se tornou, pelo sacrossanto desígnio do Pai, a estrada e a porta pela qual passou o Salvador do mundo a fim de chegar até nós e abrir para nós o itinerário do céu.
O povo fiel de Juiz de Fora, entre tantas atividades oracionais e pastorais que vêm ocorrendo no Ano Mariano, celebra-o também através de seus peregrinos, suplicando a Maria sua contínua intercessão para que, nos caminhos desta vida, seja perseverante na fé, espalhando, por onde andar, os sinais de Cristo até chegarmos a Deus, pois peregrinar é ir para Ele, nosso destino final, nas alegrias supremas da eternidade.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
(Extraído de www.arquidiocesejuizdefora.org.br)