Por que a Páscoa não tem data fixa?

30/03/2017 18:46

Por que a Páscoa não tem data fixa?

    Ao chegar a Páscoa, muitos se perguntam: em que dia cairá? Por que não há uma data fixa? Sabemos que a Páscoa cristã se celebra sempre num domingo, mas a cada ano variam-se as semanas e, às vezes, o mês. Entre os católicos, costumeiramente se diz que não há Páscoa antes de São José (19 de março) nem depois de São Marcos (25 de abril).

    Para se calcular a data da Páscoa, quando se celebra a jubilosa Ressurreição do Senhor, são importantes duas referências: a história do povo de Israel e a ciência da astronomia. Na verdade, as duas coisas andam juntas. Na Páscoa judaica (Pessah, na língua hebraica), recorda-se a passagem da noite em que povo hebreu ficou livre da escravidão do Egito, depois de uma série de inequívocas intervenções de Deus, primeiro com pragas enviadas ao Faraó opressor, e uma sequência de bênçãos prodigiosas, como a passagem do Anjo Exterminador, a travessia do Mar Vermelho, o Maná do Deserto, as codornizes, a água que brotou da rocha e outros sinais. Tal libertação se deu no primeiro plenilúnio após o equinócio da primavera do hemisfério norte, que acontece entre os dias 19 a 21 de março.

    A morte de Cristo também se deu numa sexta-feira, antes da festa da Páscoa do povo hebreu, repousando na penumbra do sepulcro no Shabat (sábado) e ressuscitando na manhã clara do primeiro dia da semana, que os cristãos desde então chamam de Domingo, ou seja, Dies Domini (Dia do Senhor). O equinócio é um fenômeno natural constatado pela astronomia, quando o sol, pela sua posição em relação à Terra e à Lua, emite seus raios de forma exatamente perpendicular à linha do equador, ocorrendo então a equiparação das horas do dia e da noite, tendo cada um pontualmente 12 horas. O termo ‘equinócio’ tem origem na língua latina: aequus (igual) e nox (noite). No ano há dois equinócios: o de março, entre os dias 19 e 21, que dá início a estação da primavera no hemisfério norte e outono, no hemisfério sul; e o de setembro, entre os dias 20 e 23, que estabelece o início das novas estações nos dois hemisférios, de forma inversa à anterior. Pelos estudos cronológicos, a data fixa da morte de Cristo teria sido, mais ou menos, no dia correspondente ao 3 de abril do nosso calendário atual. A imprecisão se verifica, porque nossos calendários não conseguem ser matematicamente exatos, por haver certa discordância entre a forma de contar os dias e a realidade da incidência da luz proveniente dos astros. Vejamos que o ano não tem exatamente 365 dias, mas se compõe ainda de algumas horas, minutos e segundos (365d 5h 48m 46s). É necessário também levar em consideração o desenvolvimento da astronomia e da cronologia na história. Em vários momentos foi necessário haver medidas para acertar e corrigir distorções na organização do tempo. Por exemplo, nos tempos modernos, no ano de 1582, o Papa Gregório XIII, orientado por estudiosos da astronomia, determinou a eliminação de 10 dias no calendário, exatamente de 5 a 14 de outubro, pois havia desencontro entre a realidade solar e a contagem dos dias no ano. Isto veio também ajustar a data da Páscoa. Por causa desta louvável iniciativa do Papa mencionado, o calendário que se usa hoje se chama Calendário Gregoriano.

    Vejamos, portanto, que não há Páscoa sem lua cheia e nem sem mudança de estação. Na Páscoa tudo se renova, tudo revive, tudo se ilumina da forma mais exuberante possível, pois, segundo a fé dos judeus e a dos cristãos, assim é que se revela a grande misericórdia de Deus que não quer a morte do pecador, nem a escravidão da criatura humana nas trevas do erro e da ilusão, mas quer que ele viva, e seja feliz.

    A Páscoa preside todo o calendário litúrgico cristão, estando as festas móveis sujeitas à data da Páscoa, como, por exemplo, a 4ª feira de Cinzas, que dá início à quaresma quarenta dias antes da celebração pascal, além das festas posteriores à Páscoa, como Pentecostes, Corpus Christi e outras celebrações móveis.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Páscoa de 2017

(Extraido do site da Arquidiocese de Juiz de Fora)