O evangelho que refletimos neste dia 12 de outubro, quando celebramos no Brasil inteiro Maria com o título de Aparecida, foi escrito por São João. Também no relato evangélico podemos dizer que Maria aparece; aliás, ela aparece muitas vezes na Sagrada Escritura, na história da Igreja, dos Santos Padres, dos nossos pais teológicos, na vida do nosso povo.
Segundo São João, Nossa Senhora manifestou-se pela primeira vez nas Bodas de Caná, e ali se revela como mãe e como intercessora. Preocupada com as dificuldades da família, ela se dirige a seu Filho e, depois, aos serventes e convidados: ‘fazei tudo o que Ele vos disser’ (cf. Jo 2,5), diz. Ela aparece como mãe bondosa que se preocupa com as necessidades dos filhos e como aquela que acreditou e fez com que os discípulos acreditassem.
Maria aparece, antes disso, no evangelho de Lucas, quando o céu visita a sua casa: o Anjo Gabriel a seleciona, a procura, a distingue entre todas as mulheres de Israel e anuncia que será a Mãe do Salvador. E ela responde: ‘eis aqui a serva do Senhor’ (cf. Lc 1,38). Nossa Senhora aparece aqui como escolhida pelo Pai e como serva, aquela que quer servir a Deus para sempre. Nas listas genealógicas de São Lucas e São Mateus, ainda é apresentada como esposa virginal de José, o castíssimo. Portanto, com uma missão especialíssima na história do povo de Deus. A Mãe de Jesus também está no calvário: quando aquele povo que tinha recebido favores e milagres do Senhor O abandona, fica à distância, Maria está perto; a mãe nunca abandona o filho, sempre aparece na hora certa.
A figura de Maria é prefigurada no Antigo Testamento, seja no pensamento do Pai, quando promete que surgirá uma mulher da qual nascerá uma descendência que vai esmagar a cabeça da serpente infernal, ou no livro de Ester, naquela rainha que encanta o coração do rei e nada pede para si. Mais uma vez, Nossa Senhora é prefigurada como intercessora em favor do povo.
A Mãe do Senhor aparece na Igreja desde o princípio: ela é citada explicitamente no capítulo 2 dos Atos dos Apóstolos, que narra a vinda do Espírito Santo no Dia de Pentecostes. Ela aparece como esposa do Espírito Santo, como aquela que está junto, que permanece com os discípulos do seu Filho.
Por fim, refiro-me à segunda leitura que fizemos no Dia de Nossa Senhora Aparecida, do Livro do Apocalipse, quando Maria aparece numa figura belíssima, grávida, vestida de sol, com uma coroa de 12 estrelas, a lua sob os pés. Aquela figura é, ao mesmo tempo, Maria e a Igreja, que se confundem, vivem fundidas como dois pedaços de cera que se encontram e formam um círio, feito para que a luz nele seja acesa e ilumine os caminhos das pessoas.
Ela é a imagem de Maria que continua na Igreja. Sua missão não se encerrou, ela continua gerando Jesus para os outros. Quem a procura, encontra Cristo. Porque assim Deus quis, porque assim Deus preparou, porque assim Deus estabeleceu. A imagem encontrada no Rio Paraíba do Sul, naquele ano de 1717, teve como inspiração esse texto.
O 12 de outubro foi dia de rezar pelo Brasil, de lembrar de todos os problemas sociais que devem ser superados. Dia de pedir à Senhora Aparecida que, como mãe que providenciou o vinho em Caná da Galileia, providencie alimento, saúde, paz, casa, tudo aquilo que precisamos. Ela, que apareceu na simplicidade de uma pequena imagem de coloração escura, ensina-nos a olhar sobretudo para os mais pequeninos, os mais pobres. Ensina-nos a ser solidários, a ser irmãos, pois é isto que o seu Filho nos ensinou: ‘que todos sejam um como eu e tu, Pai, somos uma coisa só’ (cf. Jo 17,21); ‘amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado’ (cf. Jo 13,34); ‘amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo’ (cf. Mt 22,37-39).
Isso Ele nos diz, e ela continua a nos dizer: ‘fazei tudo o que ele vos disser’.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
Fonte: Site Arquidiocese de juiz de Fora