Santa Teresa de Calcutá: a Madre do Século XX

13/09/2017 20:31

Santa Teresa de Calcutá: a Madre do Século XX


    “Talvez eu não fale a língua deles, mas posso sorrir”. Com esta expressão, aquela pequena criatura, de uma estatura espiritual gigantesca, andou pelo mundo para somente fazer o bem. Tornou-se ícone de caridade, de solidariedade, de misericórdia e tudo mais que agrada a Deus e serve aos seres humanos, sobretudo os mais necessitados e sofredores. O século XX, tão cheio de contradições e controvérsias, com duas guerras mundiais, campanha abortista, violência contra a vida, de crises de fé, de desmandos éticos e abalos morais e sociais os mais variados, precisava de um testemunho como o desta mulher que se tornou símbolo de altruísmo, desprendimento, oração e amor genuíno a Deus.

    O Papa Francisco, ao canonizá-la, aos 4 de setembro de 2016, afirmou: “Madre Teresa, ao longo de toda a sua existência, foi uma dispensadora generosa da misericórdia divina, fazendo-se disponível a todos, através do acolhimento e da defesa da vida humana, dos nascituros e daqueles abandonados e descartados. Comprometeu-se na defesa da vida, proclamando incessantemente que ‘quem ainda não nasceu é o mais fraco, o menor, o mais miserável’”.

    São João Paulo II, ao beatificá-la, em 2003, proclamou: “Estou pessoalmente grato a esta mulher corajosa, que senti sempre ao meu lado. Ícone do Bom Samaritano, ela ia a toda a parte para servir Cristo nos mais pobres entre os pobres. Nem conflitos nem guerras conseguiam ser um impedimento para ela”.

    Tomada de profundo respeito pela dignidade da vida, ela não cansava de dizer corajosamente: “Se ouvirdes que alguma mulher não deseja ter o seu menino e pretende abortar, procurai convencê-la a trazê-lo a mim. Eu amá-lo-ei, vendo nele o sinal do amor de Deus". Toda sua ação e todas as suas atividades foram marcadas pela palavra de Jesus: “Tudo o que fizerdes a um destes meus irmãos mais pequeninos, é a mim mesmo que estareis fazendo" (Mt 25, 40).

    Encarnou de tal maneira a vida de Cristo em si mesma que, além da satisfação de servir a todos, não deixou de passar por momentos de grandes provações, perseguições, incompreensões, críticas, calúnias, desilusões e angústias. Pôde vivenciar com isto, o apelo do Messias: “Quem quiser ser meu discípulo, tome sua cruz a cada dia e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por causa de mim, salvá-la-á” (Lc 9, 23-24).

    Esta misteriosa realidade da cruz, a Madre de Calcutá vivenciou também pela noite escura, espiritual, que experimentou, à semelhança de outros grandes santos como São João da Cruz e Santa Teresa D’Ávila, sem, contudo, perderem o seu ligame com Deus. Certa vez escreveu, tomada pela angústia espiritual: "Tão profunda ânsia por Deus - e ... repulsa - vazio - sem fé - sem amor - sem fervor. Almas não atrai - O céu não significa nada - reze por mim para que eu continue sorrindo para Ele apesar de tudo".

    Por este sofrimento, também Jesus passou na cruz, quando exclamou: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Mt 27, 46). Outra mulher de grande expressão espiritual neste século XX, que foi Chiara Lubic, soube bem explicar tal realidade espiritual, com a teologia de Jesus Abandonado. Ninguém, a meu ver, refletiu melhor sobre o sofrimento espiritual que a fundadora do Movimento dos Focolares.

    Teresa de Calcutá era missionária por inteiro. Sabia equilibrar fé, amor, misericórdia, sofrimento, desalento e dor. Esta conjugação é inevitável aos missionários, como afirmou Papa Francisco dia 25 de junho passado, na Oração do Angelus: “Ser enviado por Jesus em missão não é garantia de sucesso e tampouco protege de fracassos e sofrimentos. É preciso levar em consideração a possibilidade de rejeições e perseguições. Isto assusta um pouco, mas é a verdade! Assim como Cristo foi perseguido pelos homens, conheceu a rejeição, o abandono e a morte na Cruz, devemos nos lembrar que nenhuma missão cristã é sinal de tranquilidade...”.

    Madre Teresa nasceu na Macedônia, aos 26 de agosto de 1910 e faleceu na Índia, a 5 de setembro de 1997. Proclamou o Papa Francisco: “A sua missão nas periferias das cidades e nas periferias existenciais permanece nos nossos dias como um testemunho eloquente da proximidade de Deus junto dos mais pobres entre os pobres”.

    Em 1979, foi agraciada com o Prêmio Mundial da Paz, somando-se a vários outros reconhecimentos internacionais. Deixa como legado o modelo eloquente de alguém que viveu somente para fazer o bem, de alma santa inteiramente de Deus. Seu exemplo nos contagia.Sua face aureolada vista hoje por todos os lados se torna um desafio para o mundo, quanto ao amor de Deus, a caridade, a justiça, a dignidade humana e paz.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

(www.arquidiocesejuizdefora.org.br)